segunda-feira, 15 de outubro de 2012

A Difícil Arte de Recomeçar...


Saudações...


Ano passado, mais especificamente em meados de Setembro, após um início de sábado como qualquer outro passei pelos momentos mais horríveis e doloridos que podem assombrar a vida de qualquer pessoa. A dor começou a irradiar a partir das costas e foi subindo, tomando o abdômen, contraindo meu corpo e fazendo com que a única posição que me dava alguns momentos de conforto fosse a fetal, mesmo que momentaneamente. Mal sabia eu que aquele sábado de sol, que havia começado com um belo treino de 12km on Parque Barigui, seguido por um almoço com a família iria acabar sendo operado ao final do dia, para me ver livre de uma hérnia conhecida como Hérnia de Petersen. Se alguns anos atrás eu lutava para me ver livre da capa de gordura que se formava em volta do meu fígado, naquele momento a mesma gordura era o motivo pelo qual estava passando por esta dolorida experiência.



Bariátricos que passam pelo procedimento de Capela podem ser alvo da Hérnia de Petersen. Esta hérnia é causada quando o intestino penetra em um buraco criado durante a cirurgia e que normalmente é fechado com pontos. Entretanto, este buraco pode tornar-se "frouxo" uma vez que quando o procedimento é feito, o abdômen ainda tem muita gordura. Caso o operado emagreça (que é o foco da cirurgia) e perca consideravelmente a gordura abdominal (que foi o meu caso), a probabilidade do espaço abdominal ser criado é alto e foi isso que me assombrou durante quase um ano após remover a vesícula.


Quando fui operado, estava treinando para a Maratona de Curitiba. A Maratona seria em Novembro e eu havia começado os treinamentos específicos para ela em Agosto. Estava começando a subir o volume nos finais de semana e a minha preocupação em relação ao procedimento era qual seria o tempo de recuperação e em quanto tempo eu poderia estar correndo novamente. Afinal, a Maratona era o meu objetivo e ao contrário de uma prova de 10km, que podemos fazer todo final de semana, esta requer muito preparo, treino e principalmente engajamento psicológico. Pode parecer loucura, quase morrendo, estar preocupado não em me recuperar (pois sabia que iria me recuperar da cirurgia) mas sim me recuperar a tempo de retomar os treinos para aquela prova que iria me mostrar que a linha que separa a dor da emoção é muito tênue quando fazemos algo por prazer.

No dia seguinte a cirurgia, minha médica disse que apesar do procedimento ter sido bem complicado e do meu intestino estar muito magoado, tudo havia corrido conforme o esperado e eu deveria descansar durante os 15 próximos dias sendo que no 7º iria retirar os pontos. No retorno, a médica gostou do que viu e disse que eu estaria liberado para voltar a trotar dentro de uma semana e aquela para mim era uma excelente notícia. Entretanto, ao contrário de tudo caminhar para uma recuperação 100%, passei a sentir grandes dores na região da virília e após descobrir uma Orquite (em outro post conto mais sobre isso), descobri que teria que ficar mais 10 dias de molho, tomando antibióticos. Fui ficando em repouso, nos antibióticos e me cuidando para não piorar. Olhando para o calendário, via o mês de Setembro acabando, Outubro já preenchia quase totalmente uma semana no calendário e após conversar com minha treinadora, dizendo que teria que ficar mais uma semana parada eis que escuto o que não queria: "- Esqueça a Maratona, não haverá tempo para treinar". Aquilo caiu como uma bomba para mim. Era por volta de quinta-feira e eu ainda tinha mais uma semana e meia de antibióticos. Minha última consulta com o Urologista havia sido na segunda e o mesmo me recomendou que usasse cuecas apertadas não apenas no dia a dia mas também durante meus treinos. Naquela quinta-feira a tarde, não estava mais sentindo dores e mesmo ainda tomando os antibióticos decidi ir correr. Coloquei uma cueca apertada, minha bermuda e fui para o parque.

Era incrível. Aqueles 25 dias que eu estava parado era até então o maior tempo que havia ficado sem praticar algum tipo de atividade física desde que iniciei na corrida, 13 meses atrás. Voltar a colocar um pé na frente do outro era uma sensação excepcional. Meu cérebro dizia que eu era capaz, meu coração queria aquilo mas o corpo em si não estava mais acostumado a correr. Foram quase 45 minutos para fazer 5km. Um ritmo leve, porém necessário já que não estava apenas voltando de uma cirurgia mas também estava saindo de uma Orquite e ainda tomava antibióticos. Acabei aqueles 5km suando mais do que se tivesse corrido uma Meia Maratona a beira-mar. O dia não estava quente mas meu corpo estava derretendo. Foi uma tarde muito desgastante e sabia que o primeiro passo após tudo o que havia passado estava dado. O negócio então era voltar para casa, descansar e no domingo correr novamente.

Domingo chegou, ainda tomava meus antibióticos (faltavam uns 3 ou 4 dias para acabar), e fui fazer o mais curto dos longões que já havia feito. Foram 8km em pouco mais de uma hora de corrida. A diferença para os 5km da última Quinta é que já não foram tão sofridos mas mesmo assim estavam ainda longe do desempenho e distância que vinha fazendo antes de tudo acontecer. Na Terça, reencontrei minha treinadora e ela me fez duas perguntas: Como eu estava me sentindo e qual o meu sentimento em relação a Maratona. Disse que estava me sentindo bem e que não havia desistido da Maratona. Com essas duas respostas, voltei a encarar o sonho que estava a apenas quatro semanas inteiras daquele dia. Não era tempo suficiente para querer performance, tão pouco seriam suficientes para buscar resultados. Estas quatro semanas seriam sim, suficientes para não apenas terminar a prova mas sim para mostrar a mim mesmo que eu podia superar mais aquela barreira que havia sido colocada em minha vida.

Ao longo das semanas seguintes, o foco era subir o volume o máximo que conseguisse. Essa estratégia era para acostumar não apenas o lado psicológico pois iria correr mais de três horas diretas, mas também o lado físico já que até então a maior distância que eu havia feito estava perto dos 25km. Com o final do antibiótico, iniciei treinamentos mais pesados buscando retomar alguma velocidade e também subir a quilometragem no final de semana.

Muitos dos meus treinos nesta fase foram feitos ao meio dia. Durante a semana, treinava de 12km a 15km entre as 11:30 e 14:00 horas com a intenção de pegar alguma resistência ao sol e ao calor já que normalmente a Maratona de Curitiba reserva esse vilão para quem for além das 10 horas da manhã correndo. Os treinos do final de semana foram subindo conforme a Maratona ia se aproximando. Do primeiro longão de 8km após a cirurgia, os finais de semana seguintes trouxeram longos de 16km, 30km e 25km antes da Maratona no dia 20/11/2011.

No final de semana que tinha previsto 30km, completei os mesmos em 3 horas, em companhia de minha amiga e nutricionista Ana Pegoraro. O ritmo foi tranquilo, percorrendo o caminho que em três semanas faríamos durante a prova. Por menor que fosse o ritmo, ao final do treino comecei a sentir cãibras nas pernas o que demonstrava que passar três horas ou mais, correndo, para mim era sinal de dores nas pernas.

Os treinos para uma Maratona envolvem algum sofrimento extra em relação ao clima. Se quando treinamos para uma prova de 10km, garoa, frio e tempo ruim podem ser sinônimo de descanso, quando a intenção é percorrer uma distância maior não é possível dar-se este luxo. Algumas vezes fui obrigado a sair correndo em baixo de chuva, durante 12km ou 14km, pois a planilha tinha que ser seguida. Em um destes dias, uma amiga me envia mensagem a tarde pelo MSN perguntando se estive correndo na canaleta do expresso na hora do almoço, durante a chuva. Respondi que sim e ela imaginou mesmo que fosse pois não conhecia outro "maluco" que poderia estar pegando chuva enquanto outros se protegiam sob as marquises.

Último final de semana pré-Maratona de Curitiba e saio para rodar 25km com minha amiga e companheira Priscylla. Buscamos um ritmo mais forte que dos outros dias e saímos em direção a Campo Largo, a partir do Parque Barigui, seguindo pela BR 277. Por mais perigoso que pareça ser, correr ao longo da estrada é interessante. Não há semáforos ou interrupções no ritmo. Basta colocar um pace e seguir. Fechamos o percurso em 2:15 horas. Resultado excelente e o qual me fez ter uma grande confiança em como poderia levar o meu corpo na semana seguinte, durante a prova.

O corpo humano é incrível. Por mais tempo que passamos condicionando-o a praticar exercícios, a tendência é que após duas semanas sem nos mexermos a tendência é que percamos o condicionamento todo. Tudo bem que aos primeiros sinais de movimentação, a capacidade de recuperação é muito maior, mas torna-se frustrante ver que após quase 30 dias parado, um ritmo que antes eu me sentia confortável para correr, passou a ser algo quase inimaginável e somente depois de três longas semanas de treino foi possível atingí-lo novamente. Outra característica interessante é que o corpo somente irá manter o que precisa para se manter. Pouco antes de ser operado, eu havia visitado minha nutricionista e estava pesando 75kg. Após trinta dias (25 parados), voltei para uma nova avaliação e tinha engordado 1kg. Isso foi a primeira impressão pois após alguns cálculos minha nutricionista havia me mostrado que eu perdera 2kg de músculo e tinha engordado 3kg de gordura. Quer dizer, o estrago dos trinta dias parados tinha sido grande em termos de preparo físico e isso mostra o quanto somos vulneráveis a engordarmos quando não nos mexemos. O corpo, quando não incentivado, irá fazer com que o metabolismo diminua e gaste o mínimo possível para se manter. Por este motivo, todo e qualquer músculo desnecessário ele irá se desfazer e irá acumular gordura.

O importante é se manter ativo. Independente de correr, nadar ou pedalar, o importante é fazer algo para mostrar ao corpo que você precisa dele. Caso contrário, a tendência é que ao longo dos anos nossa quantidade de massa diminua e a gordura aumente, isso se não nos mantivermos nos mexendo.

Ninguém disse que começar seria fácil. Também ninguém avisou que recomeçar seria tão difícil. A única é que todo o esforço valeria (e vale muito) a pena.


Até o próximo post...

19 comentários:

  1. Olá Guilherme. Essa superação foi tremenda mesmo.
    Você passou por mais uma barreira com louvor. E hoje, está tudo bem,um ano depois só ficou a lembrança da superação.
    Parabéns

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    1. Olá Luiz, exatamente. O que ficou foi apenas o gostinho de "quero mais" e esse ano, se tudo correr bem, farei uma Maratona de Curitiba muito melhor e mais bem preparado que ano passado!

      Vamos que vamos. Obrigado pelo comentário.
      Um abraço
      Guilherme Baron

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    2. Estou me preparando pra fazer a cirurgia de hérnia de Pertensen. Assustada mas aliviada, so em imaginar que vou me livrar dessas horriveihcrises de dor.

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  2. Opa, td bem? A minha mãe tbem fez a cirurgia bariátrica, ela tbem sentia dores, fez uma cirurgia para que elas parassem, mas uns 2 meses após a cirurgia ela começou a sentir as dores de novo. Na primeira vez o médico não disse o que havia de fato, que era uma cirurgia para que as dores parassem, e como elas voltaram pesquisamos sobre e os sintomas são parecidos com os seus, então eu queria saber que exame você fez para diagnosticar que tinha a hérnia de petersen.

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    1. Olá Paulo, tudo bom. A hérnia de Petersen é difícil de diagnosticar. Na época eu estava tendo as crises e o médico dizia que o único jeito de diagnosticar 100% era com ressonância. Quando tive a crise que me levou direto para a cirurgia, os médicos quiseram fazer uma ecografia... e eu, no auge da dor, dizia que tinha que ser uma ressonância.

      Foi aí que pegaram o problema. No meu caso, o intestino passou inteiro pelo buraco criado e se alojou no lado errado do abdomen. Por isso passei pela cirurgia de emergência. Não apenas para fechar a hérnia mas também para trazer o intestino para o lugar correto.

      Um abraço e melhoras para sua mãe.

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    2. Paulo como sua mãe está? Ela fez novas cirurgias?

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Fiz a cirurgia para o fechamento da hernia a um mês, mas desde ontem senti uns sintomas parecidos com os anteriores e hj após o almoço tive uma crise ! Estou bastante abatido,queria saber o q ocorreu com a mãe do Paulo, se ele precisou de outro procedimento ou o q o médico dela adotou para livra-la de uma vez por todas dessas malditas dores. Abraço

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    1. Pedro Henrique, como vc está? Precisou fazer novas cirurgias? As dores pararam?

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  5. Boa Tarde Guilherme.
    Me submeti a cirurgia de hernia de petersen há dois dias e estou sentindo minha barriga bastante inchada e com um pouco de dor. Gostaria de saber se e normal isso e como foi a sua?
    Outra questão, o que você alimentava nos primeiros dias de pos cirúrgico?
    Um abraço

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    1. Olá Luis,

      Bom dia. No meu caso lembro-me que não tive nenhuma dieta especial após sair do hospital, depois de ser operado de Petersen. Faz anos isso, mas lembro-me bem que o médico disse: "Tá tudo certo!"

      Sobre as dores e barriga inchada, normal. A barriga inchada é devido aos gases que injetam para a cirurgia e isso deve passar nos próximos dias e as dores também, pois querendo ou não mexeram tudo dentro de você. Siga usando os remédios que o médico passou e dentro de uns 10 dias já deve ter até esquecido que passou pelo procedimento.

      Um abraço
      Guilherme

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  6. Olá Guilherme? Fiz a cirurgia também é de uns três dias pra cá ando sentindo dores, parecidas com essa que vc relatou. Me contorno na cama.Eu ainda fico com a barriga parecendo que tem um enorme balão dentro dela e com sensação de gases.
    Vc teve essa sensação também? Me ajude! Lembrando que tem uma ano e seis meses de cirurgia.
    Ainda não procurei meu médico.
    Abraços

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    1. Desculpe os erros de digitação. Troquei de celular e não me acostumei com o teclado

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    2. Desculpe os erros de digitação. Troquei de celular e não me acostumei com o teclado

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  7. Guilherme Baron, me indica um médico que possa ajudar no diagnóstico em Curitiba?

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    1. Olá. Peço desculpas em somente responder agora. Pode procurar pelo médico Dr. Sérgio Luiz Rocha em Curitiba. Ele quem me operou e é uma referência nesse tipo de cirurgia.

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  8. Passei por esta cirurgia em 06.07.2016, depois de 14 meses do bypass e após sentir a dor da morte. No meu caso não tive nenhum sintoma anterior, fui socorrido rápido, mesmo assim quase morri. Estou me recuperando.

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  9. Passei por esta cirurgia em 06.07.2016, depois de 14 meses do bypass e após sentir a dor da morte. No meu caso não tive nenhum sintoma anterior, fui socorrido rápido, mesmo assim quase morri. Estou me recuperando.

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    1. Olá Edson, espero que esteja bem. Realmente a cirurgia pode nos trazer algumas surpresas e tenho a certeza que você está 100% recuperado agora. Um abraço.

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Desde já agradeço seu comentário!

Obrigado e até mais.
Guilherme Baron